Foto: Beto Ricardo/Acervo Instituto Socioambiental

Ropni Metyktire, o grande líder conhecido como Cacique Raoni, nasceu provavelmente no início da década de 1930, em uma antiga aldeia Mebêngôkre (Kayapó) denominada Kraimopry-yaka, no nordeste do Estado de Mato Grosso. Durante o período de sua juventude, os Mẽbêngôkre viviam em aldeias seminômades, sem contato pacífico com a sociedade envolvente. Em 1954, quando o povo Mẽbêngôkre estabeleceu contato definitivo com os brancos, Cacique Raoni tinha aproximadamente 24 anos e teve um papel fundamental no processo de pacificação de diversas aldeias. Nesta época, conheceu os irmãos Villas Boas, com quem aprendeu a falar a língua portuguesa e a tomar consciência do mundo não-indígena. A partir de então, Raoni passou a ser o principal interlocutor entre os Mẽbêngôkre e a sociedade nacional.

Da esq. para dir.: Cláudio Villas Boas, Cacique Raoni Metyktire e Jesco Von Puttkamer Rei Leopoldo III/Acervo Instituto Socioambiental

Ao longo de sua trajetória, Cacique Raoni foi protagonista em diversas lutas em favor dos povos indígenas e da Amazônia, passando a ser reconhecido internacionalmente como liderança legítima e porta voz da preservação do meio ambiente. Em 1978, foi tema de um documentário indicado ao Oscar e em 1987, após seu encontro com Sting, alcançou notoriedade internacional. Nas décadas 80 e 90 teve papel fundamental na demarcação dos territórios Mẽbêngôkre, um dos maiores blocos contínuos de floresta tropical do mundo e que ainda hoje constitui a maior barreira contra o desmatamento na porção leste da Amazônia, além de participar do processo de demarcação de territórios de diversos outros povos. Teve forte atuação na Assembleia Constituinte em 1987 e 1988 junto ao movimento indígena, a qual resultou na inclusão dos direitos fundamentais dos povos indígenas na Constituição Federal de 1988. Em 1989, conseguiu mobilizar a imprensa mundial para a cobertura do “Primeiro Encontro dos Povos Indígenas do Xingu”, em Altamira (PA), contra a construção do Complexo Hidrelétrico do Xingu (que incluía a usina Kararaô, que retornaria anos depois como Usina Hidrelétrica de Belo Monte), resultando no abandono do projeto. Na década de 90 e a partir do ano 2000, Cacique Raoni realizou inúmeras viagens pelo mundo e conquistou o apoio de importantes lideranças e personalidades internacionais, que resultaram no levantamento de fundos internacionais para a demarcação de terras indígenas brasileiras, bem como na tomada de consciência do público em geral sobre a necessidade de proteger a floresta amazônica e suas populações nativas.

Foto: Todd Southgate/Acervo Instituto Raoni

A partir de 2018, diante de um cenário político nacional dramático para os povos indígenas e para o meio ambiente, Raoni assumiu mais uma vez a linha de frente na luta pelos direitos dos povos indígenas e pela defesa da Amazônia. Uma nova campanha foi realizada em 2019, na qual Cacique Raoni advertiu ao mundo sobre o desmatamento na Amazônia e as ameaças vindas do agronegócio, garimpeiros e madeireiros que exploram a floresta, buscando apoio para garantir a condições para a proteção territorial e o fortalecimento sociocultural de seus povos. Em janeiro de 2020, Raoni convocou um encontro histórico de lideranças de povos da floresta, no qual reiterou a importância de sua união contra os ataques e retrocessos aos direitos e políticas indígenas e ambientais.